Quando ingressou no ensino superior em 2011, Ricardo Silva estava animado com a oportunidade de ampliar conhecimentos e de trocar experiências com futuros colegas de profissão. Mas ele não imaginava que o lugar preferido da maioria dos universitários seria a mesa do bar. No fim das aulas ou mesmo no intervalo entre elas, a rotina se repetia: muitos estudantes seguiam para o bar e compravam cerveja. “Eles diziam que era uma forma de descontrair, de ficar mais à vontade”, lembra.
Ricardo, que gosta de cuidar da saúde e não ingere álcool, ficava incomodado com a insistência de outros estudantes para que ele também consumisse cerveja. “Eu me sentia constrangido. Eles pediam para eu beber, insistiam, perguntavam por que eu não gostava. Para eles, beber era algo natural, alguns até ficavam embriagados”, conta.
Mesmo com a pressão dos companheiros de turma, Ricardo manteve a decisão de não beber. Cada vez que era questionado a respeito de suas escolhas, ele reafirmava sua posição. “Mesmo tendo algumas opiniões diferentes dos meus colegas, procurei não me afastar e nunca fui deselegante”, explica. Para manter a integração, ele participava de atividades como almoços ou cafés da manhã.
Maria vai com as outras?
O exemplo de Ricardo mostra que é possível vencer a influência de outras pessoas e manter os próprios valores. Enquanto muitos estudantes topam beber por medo de rejeição, Ricardo soube ser flexível para compartilhar afinidades e dizer não na hora certa.
Muitos indivíduos, entretanto, têm medo de assumir as próprias escolhas. Quantas vezes você já ouviu alguém dizer que fez algo só porque todo mundo faz? O problema é que quem evita tomar decisões e segue a maioria corre o risco de sofrer ou de se arrepender dessa atitude. Antes de acatar o pedido de alguém, é importante definir o que você deseja para sua vida e quais são as suas prioridades. Isso vale até para as pequenas decisões do cotidiano, como escolher o que comer no almoço, que roupa vestir, aonde ir e com quem se relacionar.
Além disso, seguir a opinião de terceiros sem reflexão pode induzir a erro. Isso acontece, por exemplo, quando uma pessoa decide falsificar uma carteirinha de estudante ou comprar uma carteira de motorista baseada no fato de que milhares de brasileiros fazem isso. Embora essas práticas sejam aceitas comumente pela sociedade, elas são ilegais. Em outras palavras: por mais que a influência para fazer a coisa errada seja forte, isso não modifica o fato de que falsificar carteiras é algo ilícito e quem comete esse crime pode ser punido.
Superar a influência é um desafio
Uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo (USP) mostra que muitos jovens consomem álcool influenciados por pais e amigos. A tese da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) concluiu que a promoção de encontros em que a bebida é livre faz com que os jovens se sintam excluídos caso não consumam álcool, mesmo sabendo dos riscos associados à bebida.
“Há intolerância à abstinência. Os adolescentes afirmam que não consumir bebidas alcoólicas faz com que sejam diferentes e causam, muitas vezes, sua exclusão do grupo de convívio”, diz a pesquisadora Sinara de Lima Souza em entrevista publicada na Agência USP de Notícias. O levantamento foi feito com adolescentes entre 10 e 16 anos de Feira de Santana, na Bahia.
Um estudo da Universidade do Sul da Califórnia também confirma que muitos adolescentes fazem escolhas prejudiciais por influência de colegas. De acordo com o estudioso Thomas Valente, jovens que veem fotos em redes sociais de amigos fumando ou consumindo álcool são mais propensos a fumar e a beber. Ou seja, até mesmo imagens na internet são capazes de influenciar a opinião dos adolescentes.
Diante de tantas pressões sociais, qual é o segredo para superar a influência negativa e, ao mesmo tempo, não ser excluído? Vamos voltar à história de Ricardo Silva, que hoje tem 35 anos e concluiu o tecnólogo de gestão financeira em 2013. No início da faculdade, Ricardo recebia apelidos jocosos e era tratado com indiferença por se recusar a beber. Com o passar do tempo, no entanto, a decisão firme e a postura positiva diante das tarefas o levaram a ser considerado uma pessoa confiável pelos colegas.
“Houve um momento de choque porque eles achavam estranho o fato de eu não beber, mas consegui contornar isso. Eu sempre estava atento aos trabalhos solicitados por professores e a outras informações da universidade, acabei conquistando o respeito de todos e me tornei o porta-voz da turma”, diz.
Sem sexo
Há cerca de cinco anos, a bióloga Cristiene Okabe, de 28 anos, e o advogado Phillipe Biral, de 29 anos, fizeram uma escolha que deixou familiares e amigos espantados: o casal decidiu não ter relações sexuais até o casamento. Antes da decisão, os dois já tinham feito sexo. “Foi muito difícil, mas, após analisar questões culturais e espirituais, decidimos ir na contramão da sociedade. A gente queria se conhecer melhor e seguir os ensinamentos bíblicos, além de fortalecer nossa união”, explica Phillipe. O casal recorda que foi bastante questionado e criticado por outras pessoas.
“Encaramos essa escolha como um investimento na relação. A gente começou a se valorizar mais e a pensar um no outro. Muitos casais têm relações sexuais antes do casamento sem conhecer o parceiro direito, apenas para satisfazer um desejo momentâneo”, defende Cristiene.
Depois da abstinência de sexo de quase três anos, Cristiene e Phillipe se casaram em outubro de 2012. Mas será que valeu a pena esperar todo esse tempo? Cristiene garante que sim. “Não foi difícil porque estávamos seguindo as palavras de Deus. Quando você conhece seu objetivo, você fica mais forte e evita influências contrárias”, diz ela, acrescentando que aprendeu a valorizar mais o caráter do que o corpo do marido.
Para Phillipe, a experiência o tornou ainda mais consciente de outras escolhas que ele faz no dia a dia. “Antes de tomar qualquer decisão, temos que saber o que estamos fazendo. Seguir os outros cegamente mostra alienação e falta de opinião própria”, finaliza.
Por Rê Campbell / Fotos: Fotolia - Demetrio Koch - Marcelo Alves
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