segunda-feira, 14 de abril de 2014

Quando a morte parece a solução



Mata mais do que guerra e homicídio juntos: a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida. Por ano, são cerca de 1 milhão de suicidas em todo o mundo e 26 brasileiros por dia. Apesar dos índices alarmantes, ainda é tabu falar de suicídio. E é exatamente por esse motivo que a maioria das pessoas que sentem o desejo de morrer não procuram ajuda.
Segundo o ex-especialista da Organização Mundial da Saúde (OMS), o psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e autor do livro “O Suicídio e sua Prevenção”, José Bertolote, a aproximação e apoio são essenciais. “Perceber o sofrimento do outro e ter a coragem de se aproximar é fundamental. Muitas vezes, as pessoas pensam que por não serem especialistas não saberão o que fazer. E então decidem não fazer nada, mas isso com certeza não é a melhor conduta. Eu posso não saber a solução, mas se eu me aproximo de alguém, posso identificar um problema”, alerta.
De acordo com a OMS, entre os principais fatores de risco estão o desemprego, o estresse, problemas na família, traumas como abuso físico e sexual, a perda de parentes ou amigos queridos, sentimentos de baixa autoestima, transtornos psicológicos, dor física e crônica, problemas para lidar com questões de orientação sexual e a falta de esperança. Não existe um sintoma específico, embora a depressão, o alcoolismo e a esquizofrenia sejam características mais presentes em suicidas.
Eles decidiram viver
O suicídio constitui a segunda maior causa de morte entre os jovens de 10 a 24 anos de idade. De acordo com a OMS, o índice nessa faixa etária cresceu tanto no mundo inteiro que em um terço dos países essa faixa etária passou a ser considerada um grupo de risco.
O operador de vídeo Victor Saburido, hoje com 20 anos, de Campo Grande (MS), quase fez parte dessa crescente estatística. “Sentia um vazio e uma crise existencial muito grande, não me sentia bem comigo mesmo. Morava em um andar alto e volta e meia me imaginava me atirando de lá”, confessa ele. A estudante de arquitetura Maysa Machado, de 29 anos, de Belém (PA) contou que desde pequena ouvia vozes que diziam que ela morreria cedo. “Não tinha nada na minha vida que me fizesse querer viver. Não tinha motivos para sorrir e esperava o momento de morrer jovem chegar.”
Para Victor, morrer era a solução para fugir da insignificância que ele enxergava na própria existência. “Era como se fosse a única alternativa”, resumiu ele. Maysa chegou perto de conseguir. “Ficava entre corto ou não corto os pulsos. Ouvia conversas da minha mãe ao telefone desesperada com a minha situação. Ela tinha medo de se aproximar de mim por causa da minha aparência”, lembra a estudante, que adotou um estilo gótico na época.
Se a OMS cita a falta de esperança como uma das principais características do suicídio, é na Universal que, geralmente, muitas pessoas chegam quando já não acreditam em mais nada. “Eu não esperava conseguir mudar meu interior, arrancar meus traumas, minhas dores e meu histórico de decepção. Apenas enxerguei na Universal uma porta na qual eu nunca havia batido. Então fui até essa porta e bati. Lá, encontrei algo novo”, explica Maysa, que tinha 22 anos nessa época.
E foi nessa mesma porta que Victor bateu. Mesmo mais interessado no que encontraria após a morte, ele procurou uma Universal. “Acredito que o ser humano tem a necessidade de se apoiar em algo maior, era o que faltava para mim”, relembra ele, que contou com a ajuda de um amigo que era voluntário da Universal.
A OMS também cita que as tentativas de suicídios entre adolescentes estão geralmente associadas a experiências humilhantes, bullying, fracasso e desprezo. Se uma palavra negativa possui o poder de destruir uma vida, o caminho oposto é capaz de salvar. E foi isso que Maysa e Victor encontraram na Universal. “Conheci uma fé inteligente, sem aquele velho conto de fadas dos livros de autoajuda. Dentro de mim nascia aquilo que eu nunca soube que existia: opções. Passei a ter alegria e vontade de viver”, comemora Maysa.
“Talvez se eu não tivesse aprendido a acreditar tanto em um Deus grande eu não estaria dando essa entrevista agora”, pondera Victor. Quando questionado se hoje está feliz, ele não hesita em responder: “Completamente, sou outra pessoa.”
Não existe nada pior do que viver com dor, seja ela física ou emocional. Quando o sofrimento passa a ser insuportável e a existência se torna um peso, o suicídio aparece como uma resposta imediata, não necessariamente pelo desejo de morrer, mas de fazer a dor parar, independentemente das consequências e do sofrimento que essa atitude causará em amigos e parentes. Isso porque morrer parece a opção mais fácil diante dos problemas e desafios de estar vivo. Enganam-se os que pensam em suicídio, a morte não é o limite para o sofrimento. O corpo morre, mas a alma sobrevive.
*Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Datasus
Amanda Aron (Tags: Folha Universal edição 1131 saúde)

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