segunda-feira, 18 de abril de 2016

Isso não é problema meu !

Senior man trying to blow out bag of money on fire --- Image by © C.J. Burton/Corbis

Na pequena cidade de Omissão, havia uma empresa chamada Acabadiça. Ela empregava a maioria dos homens da redondeza, portanto, muitas famílias dependiam dela para sobreviver. Quando começou sua produção de papel era nanica, mas a ideologia do líder contagiava os poucos contratados que passavam a produzir como se fossem centenas. Eles eram muito unidos e trabalhavam com excelência. Com o tempo, o modesto galpão deu lugar a um belo complexo empresarial, com novas instalações e funcionários. O sucesso era galopante, mas, aos poucos, cada um foi se distanciando do outro e focando apenas em si e na sua área de atuação. Foram perdendo a motivição e o ideal. Umas das frases que mais se ouvia na Acabadiça era: “Eu não tenho nada a ver com isso. Dirija-se a quem compete!”
O individualismo e a omissão cresceram muito rápido, e num dia, aparentemente igual aos demais, um desastre trouxe à tona o que a falta de compromisso é capaz de causar.
Logo pela manhã, alguém que caminhava pela fábrica jogou uma bituca de cigarro no chão. Então, uma pequenina fumaça começou a surgir no jardim.
Naquele horário, todos os que chegavam para trabalhar viam e diziam uns aos outros: “Alguém aí chame o brigadista!”; “Isso não é responsabilidade minha!”; “Para que brigadista? Isso não é nada!” etc. Tanta gente passou por ali, e nada foi feito.
De repente a fumaça alcançou o primeiro andar, e o funcionário falou ao chefe do setor que estava sentindo um cheiro forte de fumaça. O chefe do setor, por sua vez, disse que aquilo não era problema deles. “Faremos o procedimento de praxe encaminhando um comunicado à direção.”
Quando o encarregado levou o comunicado à direção, a porta estava fechada devido a uma reunião.
Finalmente, quando a diretoria tomou conhecimento, a Acabadiça estava praticamente em chamas.

A fábrica “Acabadiça”, localizada na cidade de “Omissão” fazem parte de uma história fictícia, mas não é assim também que muitas pessoas agem na vida?
Vivem inertes e omissas, se esquivando das responsabilidades e empurrando para terceiros…
Fazem parte da sociedade, mas não praticam seus deveres de cidadão. Isto é, as mesmas pessoas que reclamam da enchente, jogam lixo nas ruas. Reclamam do mosquito Aedes Aegypti mas não cuidam de seus quintais. Reclamam quando perdem inocentes para a violência das ruas, mas não pesquisam e avaliam bem os candidatos antes de votar.
Reclamam do governo, mas a falta do governo é a falta de nós mesmos. Nossos políticos refletem com fidelidade o nosso povo, infelizmente.
O problema é que somente quando sentem na própria pele as pessoas começam a se dar conta do caos.

Diante disso, precisamos compreender a política e os mecanismos que organizam e regularizam o convívio social. Isso é crucial para que o Brasil saia dessa crise.
Não adianta afirmar que não somos influenciados pela política, porque somos e muito! O voto pode colocar comida na mesa ou pode tirá-la. Pode gerar saúde ou morte; justiça ou injustiça; emprego ou desemprego; educação ou analfabetismo etc. Por isso precisamos compreender que a política não pode ser pensada apenas de dois em dois anos durante alguns meses de preparação para as eleições, mas deve ser vista com olhar crítico e observador, afinal, é a nossa vida e o nosso futuro que estão em jogo e, por que não dizer, em votação também.
Aqueles que entendem isso não veem a hora de chegar o momento das eleições para assim exercerem um dos maiores direitos democráticos que possuem, que é escolher seus representantes. Mas aqueles que só deixam para pensar em política no momento da urna mostram que são como os funcionários negligentes da fábrica, que apenas empurraram os problemas para os outros resolverem.  No caso, pensam: “Não entendo nada de política, por isso prefiro me abster de qualquer envolvimento. Não tenho nada a ver com as ruas esburacadas, com a falta de água ou de educação. Que isso os políticos resolvam!”
Mas essas pessoas mal sabem que isso é como assinar uma procuração permitindo que a nação continue sendo essa esculhambação.
Em outras palavras, até quando elas irão pagar corretamente seus impostos e entregar nas mãos de representantes cuja família, ideologia, comprometimento ou partido é completamente alheio a elas?
Nossos direitos se perdem quando não valorizamos a escolha de quem irá administrar tudo isso.

Você já pensou em trabalhar quatro anos e entregar todos os seus rendimentos para que um estranho faça o que quiser com eles?
Loucura, não é?
Mas é isso que temos feito a cada eleição.
Por muitos anos vimos pequenos focos de incêndio de corrupção e não fazíamos nada, e agora o fogo parece estar generalizado. Isso é sim problema de todos!
Colaborou: Núbia Siqueira

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