“A aposta” é o título desta divertida história que, segundo a tradição, foi escrita por Nasrudim Coja, um seljúcida satírico sufi, que acredita-se que viveu e morreu durante o século XIII em Akshehir, perto de Cônia, capital do Sultanato de Rum, na atual Turquia.
…
Fiz uma aposta com meus companheiros. Apostei que, apesar do gelo e da neve, eu sobreviveria por toda uma noite em uma montanha próxima. Levei comigo um livro e uma vela e passei a noite sentado, exposto ao um frio que jamais havia experimentado. Pela manhã, mais morto do que vivo, cobrei o pagamento da aposta. Eles não queriam pagar e começaram a me interpelar:
— Não teve nada, nada mesmo, para se aquecer?
— Nada — respondi cansado.
— Nem mesmo uma vela? — continuaram.
— Sim, levei uma vela.
— Então, perdeu a aposta — gritou um deles, aos risos.
Achei melhor não discutir. Paguei a aposta e fui para casa descansar.
Alguns meses depois, convidei os mesmos companheiros para um banquete. Na sala de estar, eles aguardavam que a refeição fosse servida. As horas se arrastavam e nada. Meus companheiros começaram a resmungar pela demora. Então resolvi convidá-los para irem até a cozinha comigo.
Fomos todos juntos à cozinha. Mostrei-lhes uma enorme panela cheia de água e, bem embaixo dela, uma vela acesa. A água nem estava morna.
Comentei com indiferença:
– Ainda não está pronto. Não sei por qual motivo, afinal, a vela está aí, acesa desde ontem.
Do livro: Eu, Nasrudin
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